sábado, 27 de junho de 2015

SOBRE A CONFIANÇA

Olá, colegas! Agradeço a todos que me felicitaram pelo meu aniversário. O dia foi muito especial mesmo. Conto como foi no final desse artigo. Antes, entretanto, quero falar sobre um tema para mim que é de vital importância para se ter uma boa vida: a capacidade de confiar nas pessoas. O tema veio à tona quando um anônimo perguntou como confiar em outras pessoas para ser sócio capitalista de pequenos empreendimentos. 

  A confiança é o insumo básico das relações humanas. Quanto mais confiamos, mais salubres são as relações sociais, quanto menos confiamos mais desgastantes são as interações com outros seres humanos. Muitos querem emigrar do Brasil para países com maior desenvolvimento humano. Um desejo natural e legítimo. Porém, o que será que atrai tanto na ideia de morar num país diferente? É bem possível que haja uma miríade de explicações, mas tenho quase certeza que  a habilidade de confiar mais nas pessoas é um dos principais fatores. Explico-me.

  Para se conviver em sociedade um mínimo de confiança nas outras pessoas é necessário. Se estou dirigindo numa auto-estrada, eu tenho a confiança de que um motorista de caminhão não irá jogar o seu veículo contra o meu. Se eu vou comer um sanduíche numa padaria, eu tenho a confiança mínima de que não irão colocar cianureto ao invés de queijo no meu quitute. Se um policial me para numa blitz de carro, eu tenho a confiança mínima de que não serei atingido por um tiro. Sem essa confiança mínima, dirigir numa estrada seria algo perigosíssimo e estressante, eu nunca mais comeria sanduíches fora de casa e se um policial me parasse eu provavelmente iria começar a rezar o pai nosso.

  A confiança pode se estender para vários aspectos da nossa vida, mais precisamente para qualquer relação que temos com outros indivíduos. Quanto mais a confiança é algo natural numa sociedade, menos estressante é a vida nela. “Soul, mas eu tenho medo quando sou parado numa blitz policial no meio da noite,  não confio 100% não” um leitor pode estar pensando. Exatamente, colega, e é por isso que a qualidade de sua vida é pior do que poderia ser. Veja, o arranjo atual da humanidade é delegar o uso da força para o Estado. Assim, policiais exercem uma função absurdamente central nos Estados Modernos que é ser o órgão encarregado de exercer o uso da força organizada. Esse é o pressuposto básico do Estado e de uma vida social minimamente estruturada. Se um policial, detentor dessa delegação, abusa da força a ele concedida pela sociedade como um todo, algo se quebra, um aspecto da confiança mínima necessária para se viver em sociedade se perde. Com isso, a nossa vida piora.

  Logo, em países mais desenvolvidos, onde a confiança de que não serei logrado ao comprar um carro, não sofrerei nenhuma violência ao andar de noite numa rua central, não sofrerei nenhum abuso de algum ente que exerce o poder de uso organizado da força, etc, etc, a vida pode transcorrer numa maneira muito mais tranquila. Isso com certeza atrai nós brasileiros que vivemos numa sociedade onde a confiança, infelizmente, é um insumo em escassez. É evidente que você pode ser logrado ao comprar um carro, sofrer algum tipo de violência andando de noite e de alguma maneira ser vítima de algum abuso de autoridade, mesmo vivendo na Alemanha ou Japão. Porém, é difícil negar que a probabilidade disso acontecer no Brasil é muitas vezes maior do que nos países citados.

  Indo da análise mais coletiva para uma análise mais individual, é evidente que a nossa vida pode ser melhor ou pior a depender do grau de confiança de nossas relações. Imagine uma relação de Pais e Filhos quando não há confiança mútua. Não muito boa, certo. Imagine uma relação entre homem e mulher quando não há confiança. Provavelmente será uma relação deteriorada e não feliz. Imagine amizades onde você não pode confiar nos seus amigos. Talvez nem possamos chamar de amizade, pois o vocábulo amigo em essência significa que confiamos numa outra pessoa. Logo, quando perdemos a habilidade de confiar mesmo em pessoas próximas, afastamos-nos e muito de uma vida plena e feliz.

  “Ok, Soul, vou dar a minha senha do cartão para os meus amigos e ser feliz!” um apressado leitor possa estar indo fazer. Colegas, nós precisamos ter a habilidade de confiar, mas precisamos também saber que outras pessoas podem trair nossa confiança, faz parte das relações humanas. Saber dosar a habilidade de confiar com a habilidade de se precaver sem perder a confiança nas pessoas é o caminho para uma vida mais plena.  Chegamos assim no tema mais central desse artigo que é a habilidade de confiar em outras pessoas quando se trata de dinheiro.

  Eu não lembro direito o nome do blog, mas acho que era “O Investidor Inglês”. Há três anos eu li um artigo desse blog onde ele abordava o conceito de "alavancagem"de tempo. O termo alavancagem possui uma definição técnica em finanças e obviamente ele no texto usava uma forma metafórica ao falar de alavancagem. A ideia dele era bem peculiar. Quando você se une a uma outra pessoa para realizar um negócio acontece algo muito interessante.  Se um negócio necessita 500k para funcionar e você tem apenas 250k, há três possibilidades: a) se endividar quase sempre junto a um banco, b) desistir do negócio ou c) encontrar outra pessoa disposta a colocar 250k no negócio. Ao se associar a uma outra pessoa, ao juntar o seu capital acumulado com o capital de outra pessoa, um negócio que seria inacessível para você agora é plenamente viável. Essa é a ideia básica na associação de pessoas. Sempre na minha família me disseram que os alemães eram muito bons nisso, na habilidade de associar diversos capitais acumulados e com base nisso fazer negócios que não seriam possíveis para pessoas isoladas.

   Porém, o que me chamou a atenção foi o conceito de “alavancagem” de tempo. Vejam colegas, os meus interesses são múltiplos, mas eu não tenho qualquer pretensão de viajar em aviões caros, ter carrões esportivos e ficar em hotéis de cinco mil dólares a diária. Para mim isso não trará qualquer acréscimo de felicidade, ao contrário, pela minha experiência quando mais “elitizada” a sua vida vai se tornando, mais as experiências com outros seres humanos vão se tornando piores.  Logo, como tempo para mim é o que tenho de mais importante, não estou disposto a trocar o meu tempo por coisas materiais além do limite necessário para uma boa vida.  Se outras pessoas estão dispostas (e atualmente no nosso mundo atual parece ser esse o novo evangelho), não tenho absolutamente nada contra, porém não é algo que me atrai e há anos cheguei a conclusão de que essa é uma busca sem sentido.

  Assim, se existir maneiras de otimizar o meu tempo na busca de recursos materiais mínimos para uma vida confortável e aprazível, com certeza eu estou disposto a tentar. Um dessas formas é confiar em outras pessoas em matéria de dinheiro. O artigo supracitado dizia que quando você possui sócios em que pode confiar, você ganha tempo na sua vida. Você utiliza o tempo dos outros em seu proveito. Como? Num determinado arranjo societário um dos sócios pode ficar operacional por alguns meses, e se tornar sócio “capitalista” em outros meses. Com isso, ganha-se tempo para se fazer o que desejar.

  “Soul, concordo plenamente. Gostaria disso também. Porém, como confiar em alguém em matéria de dinheiro, ainda mais no Brasil?”. Bom, esse é o tipo de pergunta que é difícil de ser respondia sem que a pessoa tenha certos modelos mentais. Para uma pessoa que já foi de alguma maneira prejudicada por alguma sociedade ou que desconfie de tudo e todos, qualquer coisa que eu escrever será automaticamente rejeitada de plano pelo sistema 1. Eu tenho pessoas muito próximas que possuem uma dificuldade imensa de confiar em outros humanos. O que eu percebo nessas situações é que as pessoas tem uma tendência muito grande de ficarem prostradas, serem infelizes e reclamarem muito da vida. É uma pena, pois a única forma de se evoluir nesse caso é ir contra algo extremamente arraigado nas personalidades desses indivíduos.  Assim, não há nada que eu possa falar ou escrever que seja bom o suficiente para pessoas com este estado mental. Entretanto, eu creio profundamente que quanto mais sabemos confiar mais chance nós temos de sermos satisfeitos em geral e de sucesso financeiro em eventuais negócios.

   Evidentemente, confiar numa outra pessoa, principalmente em matéria de dinheiro, não significa entregar-se de olhos fechados a qualquer tipo de negócio. Nisso, felizmente ou infelizmente, uma formação jurídica ajuda muito. Se não é possível eliminar 100% o risco de nos frustarmos, arrependermos e perdemos dinheiro, é sim factível eliminar alguns riscos e diminuir eventuais impactos de atos de deslealdade. Poderia fazer uma analogia com uma gestão de risco visando eliminar riscos muito grandes de um portfólio. Logo, conhecimento jurídico é fundamental. Se você não tem, procure alguém bom que tenha, nem que isso custe uma quantia razoável de dinheiro. 

 Entretanto, como essa parte é razoavelmente fácil para mim, eu procuro outros sinais. Um deles é como a pessoa lida com as diversas relações humanas, se age de forma ética ou não. Um requisito essencial para mim é ter controle emocional quando contrariado. Já escrevi diversas vezes, em diversos textos de variadas perspectivas, sobre a dificuldade no Brasil atual de se encontrar um espaço com diálogos inteligentes e cordiais. Eeste blog mesmo foi palco de mensagens completamente dissociadas da realidade e absurdamente ofensivas, tudo porque uma determinada ideia foi contrariada. Uma pessoa que não pode ser contrariada não é flexível e possui uma visão limitada de mundo, logo não serve, para os meus parâmetros obviamente outras pessoas podem pensar diferente, para ter laços financeiros. Veja, pessoas assim podem ser até colegas, e eu tenho alguns assim. Podem ser ótimas companhia para uma cerveja, uma sessão de surf ou uma ida à pizzaria. Podem até serem humanos com bons princípios éticos, mas em minha opinião não servem para se ter vínculos de dinheiro.

 Em qualquer empreitada financeira (tirantes questões como ética, sustentabilidade, etc), o objetivo primordial é sair de uma quantia X e aumentar esse valor por um multiplicador positivo e acima de 1. Ora, não há espaço para egos inflados aqui. Em matéria de finanças o que eu mais quero é que me mostrem que eu estou redondamente errado, mas com argumentos lógicos e objetivos é claro. Quanto mais você evolui em finanças,  e isso envolve reconhecer erros, menos chance de cometer erros, e mais probabilidade de atingir os objetivos financeiros. Não está a se falar em pena de morte, aborto, redução de maioridade penal, etc, temas onde outros sentimentos podem aflorar junto com a racionalidade. Quando a matéria é dinheiro, o objetivo primordial não é defender o seu ponto de vista sempre e a qualquer custo, mas sim procurar formas de potencializar os seus ganhos.

   Quando se forma algum tipo de união financeira com outra pessoa, o objetivo final não é ter razão, mas sim ganhar mais dinheiro. Logo, as pessoas devem suportar ter as suas ideias duramente criticadas e não se irritar com isso, mas pelo contrário ver que só assim melhores decisões são tomadas. Sendo assim, essas são características que procuro encontrar em pessoas com as quais eu possa travar relações financeiras.

   Sempre acertei? Não. No meu artigo sobre a minha história financeira Minha História Financeira, conto sobre a minha pequena experiência como organizador de raves. A pessoa com a qual me associei na primeira festa era um amigo. Não me preocupei com nada disso que eu escrevi até agora, também pudera eu tinha apenas 22 anos. O resultado foi que eu me decepcionei bastante, não só pelo fato de ter perdido dinheiro, mas principalmente com a reação “pós-desastre” do meu sócio. Dura lição da vida.

  Hoje em dia, tenho o privilégio de compartilhar laços financeiros com pessoas bacanas. Minha viagem tem vários objetivos, muitos mesmos, não é apenas ir a lugares e ver coisas diferentes. Um dos objetivos é como essas relações que possuo iriam transcorrer com a minha ausência, e se é possível ou não fazer o que eu faço de maneira remota no exterior. Ainda não me envolvi em nenhuma operação grande estando no exterior, apesar de já terem ocorrido tentativas, mas no tocante as operações em andamento não tenho nada do que me queixar. Uma das pessoas é amigo de faculdade, pessoa de caráter muito firme que se tornou um advogado de primeira linha. Pensei que poderia ter problemas, pois sou eu que costumo fazer algumas coisas operacionais, mas “so far so good”, ele tem desempenhando com extrema competência. 

  O outro colega eu conheço há alguns anos apenas. Sujeito extremamente simpático, gentil e inteligente. Totalmente ético nas suas relações. Ele ainda possui uma característica muito boa de caráter que é a capacidade de sentir gratidão. Disse-me certa vez que era muito grato por eu estar dividindo a minha experiência de imóveis com ele, o que não deixa de ser verdade. Ele por seu turno realiza inúmeras pesquisas de pronto, faz tudo para ontem, e quando eu penso em começar a analisar uma oportunidade ele já me mandou uma tabela com vários cenários e com a TIR projetada. Ou seja, muito bom mesmo. Nós dois nos beneficiamos, e é assim que uma relação financeira deve ser. Aliás, semana sim, semana não, recebo oportunidades possíveis com tudo mastigado, só preciso às vezes dar algumas orientações de pesquisas e esclarecer alguns detalhes jurídicos. Confio nessas duas pessoas. Posso me desiludir? Claro que posso. Posso me prejudicar financeiramente? Claro que posso. Posso ser levado à bancarrota? Não, não posso, e isso faz parte do processo de se precaver minimamente e não se colocar em situações onde o risco de se confiar em alguém pode ser imenso. Porém, no final é preciso confiar, mesmo correndo-se o risco de se prejudicar. Apenas com confiança posso me juntar a pessoas com habilidades diferentes das minhas, “alavancar” o meu tempo e conseguir ficar mais perto dos meus objetivos financeiros. Além do mais, para mim é uma sensação muito bacana ver outras pessoas prosperando comigo. 

  Era isso que eu tinha para falar sobre confiança. Agora conto um pouco sobre o meu aniversário de 35 anos. Bom, foi muito especial mesmo. Aliás, tantos dias especiais nessa viagem que eu nem acredito que estou tendo o privilégio de vivenciar tudo isso. No facebook já contei alguns dos inúmeros dias incríveis. No blog, contei apenas um que foi este artigo O Nascer do Sol, As Estrelas e A Lágrima

   Acordei no dia meu aniversário com uma bela homenagem da Sra. Soulsurfer, palavras muito bonitas mesmo. Decidimos ir de manhã, já que surfaria apenas de tarde, ao famoso bar Cloud9. Esse bar localiza-se no meio do mar numa área protegida por uma barreira de corais. O dia estava ensolarado e a cor da água ao redor estava absurdamente bela. Fizeram companhia um casal de americanos que conhecemos uns dias antes, e um simpático casal de franceses. O americano chamava-se Nick (não dá nem para acreditar,  os leitores mais atentos lembrarão do americano, que já se tornou um grande amigo, que encontrei diversas vezes chamava-se Nick). Ele  é  Dive Master e está em Fiji para mergulhar. A mulher chamava-se Jesse. Ambos moram na Califórnia, mas ela é de um dos Estados Centrais dos EUA. O Nick ofereceu estadia, e ele mora numa das praias mais badalas da Califa, e ainda disse se eu visitá-lo que deixa eu dirigir o seu Camaro. Próxima vez na Califórnia será com estilo:) Numa conversa em um jantar, ela me perguntou sobre as penas criminais no Brasil. Quando disse que no Brasil não tinha pena de morte, ela não acreditou. Quando eu disse que só se pode ficar preso 30 anos no Brasil, ela quase caiu para trás. Como não quis polemizar muito, resolvi mudar de assunto e perguntei sobre o OBAMACARE, e mais polêmicas afloraram.  O ponto alto da noite foi quando ela me perguntou se no Brasil a gente falava francês. Espanhol todo dia eu ouço, mas francês foi a primeira vez. Enfim, foi uma janta interessante. Assim, partimos nós seis para o badalado bar.

Minha casa por 10 dias (ainda tenho mais alguns).

  Chegando lá, fiquei impressionado com a beleza do estabelecimento, com a escolha musical e com a qualidade da pizza. Sim, eles fazem pizza de forno a lenha num bar no meio do oceano. Deliciosa a pizza, a melhor pizza no estrangeiro que eu já comi disparado. O preço era uma pechincha: 9 dólares americanos. Uau. Foi simplesmente irado comemorar o meu aniversário num local tão único, comendo uma pizza gostosa com uma cerveja gelada cercado por um azul tão forte que doía os olhos.


Cloud9. O Bar mais irado que eu já fui!
Inacreditável como a pizza é gostosa. Comer uma pizza deliciosa de 9 dólares no meio do mar tomando uma cerveja gelada com a sua companheira de viagem do lado no dia do seu aniversário não tem preço....
Soulsurfer e companheira relaxando nas confortáveis espreguiçadeiras
O bar era extremamente confortável e decorado na medida certa.

  Depois de voltar do bar, era hora de ir para o surf. Estava ventando bastante, mas num lugar chamado Restaurants o vento era offshore (o que é bom). Foram quase uma hora dentro de um barquinho sacolejando que nem um saco de batatas até chegar no local. Ao avistar as ondas, vi uma série de 4 a 5 pés entrando pesada na bancada e apenas um cara sentando no line up. Falei comigo mesmo apenas “Caraio!”. Caio na água e vejo o único surfista que estava no mar colocar para dentro de um tubo, mas o mesmo fechou. Ele voltou remando com o wetsuit rasgado e sangrando no braço e apenas falou para mim, a bancada mais ali atrás está bem rasa. Eu estava sem wetsuit, e apenas pensei “eita, é hoje que vou ganhar uma cicatriz de coral”. Minha previsão ainda bem não se concretizou, e foram três horas inesquecíveis de surf na perigosa e perfeita onda de Restaurants. Meu desempenho não foi excepcional, afinal não estou acostumado com reef breaks e além de tudo não sou um surfista muito bom, mas foi demais para mim surfar aquela onda, demais mesmo.

 Soulsurfer "into the barrel!" - não sai infelizmente...
Bancadinha rasa (foto cloudbreak). Em restaurants, era metade mais raso do que isso, era absurdamente raso...


  De volta ao surf resort, presenciei mais um sunset maravilhoso. De noite o  staff  do local resolveu me homenagear. Colocaram apenas uma grande mesa para a janta e os 10 hóspedes sentaram todos juntos. Ao final, apagaram as luzes, trouxeram um bolo e cantaram parabéns para você em Inglês e em Fijiano. Muito bacana mesmo. Foi um dia muito especial, como era meu aniversário ficou ainda mais fabuloso. Com toda certeza lembrarei para sempre do meu aniversário de 35 anos.

Esses Sunsets em dia de aniversário...

  É isso colegas, espero que tenham gostado. Grande abraço a todos!

quarta-feira, 24 de junho de 2015

INVESTIMENTOS - BREVE GUIA SOBRE AS DIVERSAS CLASSES DE ATIVO

  Olá, pessoal! A pedido do colega Guardião falo um pouco hoje sobre investimentos. Talvez  o que eu tenha a falar não seja de grande valia para muitos, pois estes temas são tratados por inúmeros blogs, sites, portais, etc. Entretanto, mesmo assim, escrevo um pouco sobre as classes de ativos e perspectivas destas no Brasil. Como já salientei diversas e diversas vezes, sou apenas um investidor amador e nem de longe possuo conhecimento e expertise de tantos gestores profissionais. Por isso, se por ventura alguém for comentar que eu entendo pouco de finanças e mercado, nem precisa perder tempo, pois eu tenho plena consciência disso. Entretanto, mesmo assim, como escrevo para outras pessoas que também são investidores amadores, talvez alguém possa achar alguma utilidade nas próximas linhas.

RENDA FIXA

   O mercado de renda fixa brasileira nos últimos 20 anos, não tenho conhecimento do período pré-estabilização, foi um ponto fora da curva no mundo. As taxas de juros reais aqui praticadas durante muitos anos não encontram nenhum paralelo no mundo. Uma vez li um estudo comparando taxas de retirada de um portfólio em vários países emergentes (esse tipo de análise é bem rara). O  estudo serve para ver se um determinado portfólio, geralmente com uma alocação 50% ações-50% mercado de dívida, exaure-se, decresce ou cresce depois de um determinado período (10,15,20 e 30 anos) com diferentes taxas de retirada.  Não foi muita surpresa ao ver que portfólios baseados em ativos brasileiros “aguentaram” taxas de retirada de incríveis 6-7% , fazendo do Brasil o país com a maior taxa disparada entre diversos países. Essa discrepância toda se deu pela taxa altíssima de juros real brasileira.  Ou seja, quem tinha patrimônio acumulado e viveu de renda nos últimos  20 anos no Brasil, não tem absolutamente nada do que reclamar.

   Atualmente, as taxas de juros reais ainda são muito altas no Brasil. “Elas devem permanecer assim, Soul?”. Eu acredito que para um período longo de tempo elas não permanecerão nesse patamar. Porém, o Brasil poupa muito pouco, e a taxa de juros é diretamente influenciada pela taxa de poupança. Assim, é possível que o Brasil ainda proporcione juros reais altíssimos, em comparação com outros países, por um bom período de tempo. Ruim para o Brasil e brasileiros, razoavelmente bom para poupadores pessoas físicas que estão vivendo de renda, aposentados ou construindo patrimônio.

   A renda fixa é basicamente categorizada pelo mercado de dívidas. Seja a dívida de um banco pequeno ou a dívida do governo brasileiro, quem investe nessa espécie de ativo está na verdade emprestando dinheiro para alguém. Tirante instrumentos mais complexos de dívida, basicamente o principal fator a se analisar quando se empresta dinheiro alguém é a capacidade de pagamento do devedor.  Os governos, quase sempre, são considerados devedores mais confiáveis do que pessoas físicas e jurídicas privadas, e por isso  suas dívidas tendem a ser  consideradas  como de pouco risco (o que  às vezes não se mostra verdadeiro, conforme atestam os diversos calotes de dívidas estatais que ocorreram durante a história, mesmo em países hoje desenvolvidos).  A doutrina geralmente considera as dívidas de países ricos como se fossem livre de risco. Como boa parte do material produzido é dos EUA, costuma-se considerar o título de curta duração, Treasurie, do governo americano como o ativo livre de risco, o custo de oportunidade financeiro básico. 

   Assim, qualquer outro devedor, não seria tão confiável como o governo americano. Logo, para outras pessoas se endividarem, elas tem que pagar um prêmio sobre a taxa que o governo americano paga. Esse conceito é conhecido na doutrina como Credit Risk Premium Risk (CRP). Assim, a Apple se quiser se endividar precisa pagar um prêmio, se o Governo da Nigéria quiser se endividar em dólar, precisará pagar um prêmio. Quanto mais duvidoso for o devedor, teoricamente maior tem que ser o CRP para contrabalancear o risco de um calote total ou parcial.

  Outro fator importante é o prazo da dívida e foi por isso que disse títulos de curta duração. Uma dívida de maior duração sempre carregará mais risco do que uma dívida de curta duração. É por isso que uma dívida com prazo de pagamento de  1 ano é mais segura do que uma dívida com prazo de pagamento ao final de 30 anos. Esse conceito é conhecido na doutrina como Bond Risk Premium (BRP).  Além do fato de títulos de curta duração serem mais seguros, títulos com maturidade mais alongadas possuem volatilidade muito maior, ou seja o valor dos papéis de dívida pode oscilar para cima e para baixo no prazo de maturação da dívida. Geralmente, se usa o conceito de Duration para mostrar o impacto que as taxas de juros básicas possuem em papéis de dívida com maturidade maior. 

    Sendo assim, há dois prêmios principais em mercados de dívidas (há outro muito importante que é o prêmio por iliquidez, mas talvez não seja tão decisivo como estes dois): CRP e BRP. Basicamente, com esses dois conceitos se pode analisar qualquer instrumento do mercado de dívida.

    Como estamos no Brasil, a taxa “livre de risco” deve ser o que o governo brasileiro paga nos seus títulos de curta duração. Entretanto, aqui é um pouco diferente, pois não se trata de títulos de curta duração, mas sim de títulos sem duration, ou seja títulos que não perdem  valor com eventuais mudanças na taxa de juros. Aqui já temos algo meio que único, uma verdadeira jabuticaba, a possibilidade de comprar títulos de dívida governamental sem duration. O que isso significa? A possibilidade de se comprar uma LTF (um título atrelado a taxa SELIC) sem necessidade que a mesma seja de curta duração. Assim, pode-se emprestar ao governo brasileiro sem qualquer risco de volatilidade no título, o que é algo muito bom para investidores. 

      Assim, ao se analisar qualquer dívida no Brasil, deve-se ter como parâmetro básico a taxa SELIC (algumas pessoas usam o CDI).  Vai emprestar dinheiro para o seu primo João pelo prazo de um mês? A taxa SELIC, ou o CDI, deve ser o piso da remuneração, e em cima desse piso deve ser acrescentado um prêmio: o prêmio de crédito. O seu primo João quer dois empréstimos: um para ser pago em um mês e outro para ser pago em um ano. Em relação a este último, deve-se pegar a SELIC como piso, acrescentar um prêmio de crédito (CRP) e ainda acrescentar um prêmio por ser uma dívida mais longa (BRP). 

     Assim, colegas, não se apeguem tanto em nomes como LCI, LCA, Debêntures, CRI, CDB, etc. Pensem sempre em termos de risco de crédito, maturidade e liquidez (teoricamente um ativo mais líquido deve remunerar menos do que um ativo ilíquido). Portanto, ao escolher quais ativos devem compor o seu portfólio de renda fixa, ao invés de se apegar nos nomes dos títulos, faz mais sentido saber exatamente para quem se está emprestando, por quanto tempo e quais são as eventuais garantias.

   As garantias são importantes quando se empresta dinheiro para pessoas privadas.  Quanto mais garantia se tem um empréstimo, menor o risco de calote (default) parcial ou total da dívida. Sendo assim, o CRP tende a ser menor. Quer analisar os Fundos Imobiliários detentores de dívidas com funding imobiliário (também conhecidos como FII de papel)? Olhe principalmente o colateral (garantia) da dívida. É um terreno, um apartamento, o fluxo de aluguel de um shopping? Qual é o valor da garantia em relação à dívida (métrica Loan to Value ou LTV)? Uma vez escrevi sobre FII de papel num artigo que pode ser de valia para quem ainda não está familiarizado com essa espécie de investimento FII de Papel - Abrindo a Caixa de Pandora

  Portanto, colegas, a renda fixa deve ser analisada olhando esses conceitos básicos. Eu, como já explanado, creio que os juros reais aqui são muito altos. Além do mais, há diversos títulos com tratamento tributário benigno (debêntures incentivadas, LCI, LCA, CRI, CRA, etc), sem duration, e com bom pagamento. Eu mesmo possuo LCA do BB pagando se não me engano 94% do CDI, o que é uma ótima remuneração para um título com quase risco soberano.


   Assim, a renda fixa, principalmente em momentos de turbulência interna como o Brasil está vivendo, deve possuir um espaço considerável em seu portfólio, em minha opinião. Apenas como provocação e curiosidade, se você não gosta de pagar impostos, não gosta do Estado Brasileiro, então deve seguir o conselho dado por pessoas do Instituto Mises - e eu diversas vezes na minha juventude questionava o meu Pai sobre isso -  de não emprestar dinheiro ao governo brasileiro, pois estará ajudando no processo de espoliação do próprio povo via tributos. Assim, se a pessoa quer manter a coerência, deveria apenas emprestar para pessoas jurídicas privadas (ou eventuais empréstimos para pessoas físicas). Além do mais, se alguém não confia nos órgãos oficiais do governo acerca de dados sobre inflação não deveria comprar nenhum titulo de dívida atrelado ao IPCA, por exemplo. Desconfiar do governo e comprar títulos baseado em índices fornecidos pelo próprio governo não é uma atitude coerente.

  Logo, colegas, tirante questões de cunho pessoal e político, a renda fixa é uma ótima classe de ativo no Brasil, possuindo uma rentabilidade que nem nos sonhos mais audaciosos de investidores estrangeiros podem ser encontradas em seus países de origem.

IMÓVEIS E FUNDOS IMOBILIÁRIOS


     Imóveis como investimento infelizmente possuem pouco tratamento na doutrina. Não é comum encontrar livros sobre imóveis, ou investimentos imobiliários, ao contrário em relação ao investimento no mercado acionário, por exemplo.  Tal fato não deixa de ser estranho, pois economistas estimam que metade de toda riqueza acumulada no mundo é representada por imóveis, ou seja é um tipo de ativo extremamente importante.

   Muitos possuem apenas o imóvel em que residem, ou nem isso. Possuo um bom amigo que resolveu vender o seu apartamento, com o dinheiro da venda investiu em FII. Metade do rendimento dos FII ele usa para pagar o aluguel de um apartamento bem maior, a outra metade ele usa para as suas despesas básicas. Eu também pensei, antes da viagem, em vender o apartamento em que eu moro. Com o dinheiro da venda, e o Yield que os FII estavam oferendo há poucos meses , eu poderia pagar todas as minhas despesas anuais, e ainda sobraria um troco. Entretanto, imóveis residenciais envolvem algo mais imensurável objetivamente, e o fato do meu imóvel ser num lugar extremamente especial (é numa rua sem saída, virado para dunas, a cinco minutos andado de uma praia bem bonita e com uma vista bem bacana), fez-me, por enquanto, desistir da ideia de vender. Assim, nessa análise deixarei de fora qualquer sentimento que alguém pessoa eventualmente ter pelo seu imóvel, e focarei apenas no aspecto financeiro.

  Primeiro detalhe e que quase nunca vi ninguém, nem mesmo em livros, abordado é o fato de que o seu imóvel residencial faz parte do seu portfólio. Assim, se você tem um imóvel que vale 500k, e 500k em RF, por exemplo, isso quer dizer que possui 50% de exposição ao mercado imobiliário. Adicionar Fundos Imobiliários aumentará ainda mais a sua exposição a imóveis. Não considerar o imóvel, e a exposição que ele ocasiona ao mercado de real estate, na composição do portfólio é um erro em minha opinião e pode fazer com que a pessoa se exponha de maneira demasiada em imóveis.

  Sobre imóveis escrevi um artigo há um ano sobre a tendência de crescimento de longo prazo expectativa realista de retorno dos imóveis no longo prazo. Creio que há muitas informações lá, e recomendo a leitura. No artigo em questão, falava sobre a possibilidade de desvalorização real dos imóveis, bastando apenas ter ligeiras valorizações nominais (não precisaria haver necessariamente um evento traumático com quedas vertiginosas em todo o país). Parece que é o que vem ocorrendo, ainda mais uma inflação tão alta. Os excessos de valorização real muito acentuada entre 2004-2012 parecem que já vem sendo corrigidos.

  Eu mesmo possuo algumas operações de relativa alta monta ainda em andamento. Numa delas, o preço pedido já caiu mais de 100k, e olha que quando coloquei a venda o valor estava em consonância com o mercado. Creio que agora atingiu um limite, levando em conta o preço do m2 de terreno na região, bem como valor do m2 construído medido pelo CUB. Porém, é um exemplo de que imóveis flutuam sim de preço, apenas não há liquidez suficiente para sentirmos isso diariamente. Objetivamente, fiquei 100k mais pobre, mas isso faz parte, e na operação em questão tenho muita margem.

  Eu, apenas uma opinião, creio que o valor dos terrenos tendem a ter valorizações significativas de preço no médio-longo prazo no Brasil, principalmente os localizados em regiões litorâneas. Por qual motivo acho isso? Primeiramente, o Brasil nos próximos 40 anos irá incorporar mais 40-45 milhões de pessoas, isso é muita gente. Segundo, o Brasil irá envelhecer, e há uma tendência de pessoas de mais idade irem morar no litoral quando da aposentadoria. Por fim, haverá uma escassez natural de terrenos bons. Em Balneário Camboriú, por exemplo, creio que há apenas dois terrenos em toda orla. Assim, creio que o investimento em bons terrenos pode ser um ótimo negócio, principalmente se o horizonte de prazo for longo.

  Particularmente, não gosto de imóveis que não seja para compra e venda. É uma área onde se pode realizar bons negócios, e que pode envolver valores substanciosos. Não gosto de imóveis para aluguel. As razões são inúmeras e não irei me estender aqui, uma vez fiz uma análise de um caso concreto, num artigo que pode ser acessado imóveis próprios, FII e Cap Rate.


  Ao investir num imóvel próprio para locação, um investidor com não muito dinheiro terá que se concentrar de maneira absurda. Por qual motivo? Bom, se a pessoa tem 500k para investir, pode, por exemplo, comprar duas salas comerciais. Se uma sala comercial fica vazia, o fluxo de renda de imóveis cai incríveis 50%. A chance de sua renda cair 50% numa carteira de FII bem montada e organizada é muito pequena mesmo. Além do mais, com pouco dinheiro a pessoa só pode basicamente comprar salas comerciais, imóveis residenciais e pequenos galpões. Esqueçam a possibilidade de poder alugar para Ambev, Petrobrás, etc, assim os locatários não serão grandes corporações, o que deveria fazer com que o fluxo fosse menos confiável e valesse menos (sim, usando a métrica de análise de fluxo de caixa descontado). Também não se pode diversificar em diversos setores do mercado imobiliário, algo que só é possível para investidores com dezenas, ou centenas  de milhões de reais. Para completar, o tratamento tributário é muito pior, já que atualmente o rendimento de aluguéis via FII ainda são isentos de IR. Portanto, eu sinceramente não vejo sentido em ter imóveis para locação, sobre nenhum aspecto. O único aspecto, que pode ser bom, ou ruim dependendo de quem analisa, é a possibilidade de dar a finalidade que bem se entende ao imóvel próprio, algo que não é possível num FII.

  O tema financeiro mais tratado nesse blog foi sobre Fundos Imobiliários. Há diversos artigos, e se alguém que não conhece do tema quiser ter uma visão geral recomendo a pesquisa aqui nesse site mesmo dos diversos posts.  Neste artigo Parâmetros Objetivos para análise de um FII trato de linhas gerais de como analisar um FII, pode ser um bom começo.

   Quais são as perspectivas dos FII  em minha opinião? Bom, eu em meados do ano passado fiz um apanhado sobre os REITs (FII americano), e baseado nisso tirei algumas conclusões pessoais. Eu creio que o mercado de FII só tem a crescer no médio prazo. As possibilidades são inúmeras, desde o aumento do número de FII, bem como o aumento de setores. Talvez empresas inteiras podem se desfazer dos seus imóveis, liberar capital, fazer contratos de locação com FII de longuíssima duração, e se o ROE da empresa for maior do que o custo do aluguel, ser uma operação ganha-ganha. Além do mais, se não me engano, 15% dos imóveis comerciais nos EUA são possuídos por REITs. No Brasil, eu não faço a mínima ideia, mas talvez a relação não seja nem de 0,1%. Assim, para sermos proporcionalmente idênticos aos EUA, o mercado de FII do Brasil teria que crescer 150 vezes. É claro que há inúmeras barreiras: a oscilação diária da quota, a falta de entendimento do que seja um FII, a não familiaridade do Brasileiro com o mercado financeiro, etc, etc. Porém, sob a legislação atual, é benéfico muitas vezes possuir imóveis via FII, mesmo para grandes investidores. Assim, creio que a tendência é de crescimento para médio-longo prazo.

  “Soul, e o que acha para o curto prazo?” Eu não saberia responder, colegas. Há inúmeras fontes de pressão contra o mercado imobiliário em geral, e os FII em especial no Brasil acontecendo. Excesso de oferta no mercado de escritórios e de logística. Entretanto, é muito provável que vários projetos foram abortados (já que o prazo de maturação é de 3 a 5 anos). Logo, quando o Brasil retomar o caminho do crescimento, mesmo que seja em 2017-2018, é possível que a oferta seja absorvida e a taxa de vacância tenda a cair. Há a pressão da alta do custo financeiro, pois com juros a quase 14% fica difícil competir. Entretanto, não parece que juros dessa magnitude serão presentes por muito anos, e o mercado de juros futuros parece corroborar essa tese. Assim, há inúmeras pressões de curto prazo, porém para o investidor amador que faz aportes periódicos a classe de ativo FII é uma boa pedida. Creio que alocações menores para quem ainda está na fase de acumulação, e alocações um pouco maiores para quem quer viver de renda ou está em fase previdenciária são uma boa pedida.

  Portanto, FII podem ser ótimos geradores de renda mensal, instrumentos ideias para a geração de caixa para pagamento de despesas fixas mensais, por exemplo. Creio que esse tipo de ativo deve constar na carteira de qualquer investidor seja jovem, idoso, agressivo ou conservador.


MERCADO ACIONÁRIO

   O mercado de ações é o que mais atrai e fascina o investidor amador. Há inúmeros textos e livros sobre essa espécie de ativo, e muitos leitores do blog devem possuir mais conhecimento sobre o tema do que eu. Sendo assim, não irei me estender muito nesse tópico, apenas fazer algumas breves reflexões pessoais.

  Primeiramente, assim como um FII representa imóveis, não se pode esquecer que uma ação negociada em bolsa representa quase sempre uma empresa. Uma companhia com empregados, diretores, marketing, fatias de mercado, foco,etc. É preciso nunca esquecer desse fato. Por qual motivo? Simples. Uma empresa precisa dar lucro, assim como precisar ter boa margem de venda, tratar bem os seus consumidores, possuir empregados motivados, etc.  Assim como o FII BRCR representa todo um portfólio de imóveis, as letras ABEV representam uma empresa que opera no mundo real. Tendo apenas isso em mente, e vários sites e livros batem muito nessa tecla, fará com que o investidor amador não cometa muitos erros e assim se pode evitar aqueles comentários repetitivos sobre OGX, MILK e tantas outras empresas que não passariam por quase nenhum filtro mínimo de análise.

  “Soulsurfer, mas não se pode ganhar dinheiro com turnaround?” Para quem não está familiarizado com o termo estrangeiro, são empresas com métricas operacionais ruins, mas que ao longo do tempo melhoram, trazendo a possibilidade de ganhos enormes. É claro que é possível, colegas. Assim como é possível comprar uma padaria deficitária, melhorar a sua administração, e revendê-la dois anos depois pelo dobro do preço. Entretanto, para fazer isso precisa conhecer muito de negócios e contar com um pouco de sorte. O mesmo raciocínio se aplica no mercado acionário. Talvez seja possível, mas obviamente envolve mais riscos. Logo, se não deseja devotar muito tempo a análise do mercado acionário, o que consome tempo (e nunca podemos esquecer que a nossa maior riqueza é tempo de vida com saúde), mantenha as coisas simples. Escolha empresas lucrativas, com boas margens, que tratam o minoritário de maneira transparente e correta, e provavelmente o resultado no médio prazo tenderá a ser no mínimo razoável, principalmente se o mercado acionário for usado como uma forma de acúmulo de poupança.

   
  Outro tópico é sobre ter enormes retornos no mercado acionário. É claro que é possível e até estatisticamente provável para algumas pessoas se partimos de um universo de investidores relativamente grande. Porém, para a esmagadora maioria dos investidores isso simplesmente não ocorrerá. Eu creio que uma forma passiva de se investir no mercado acionário faz mais sentido para um investidor amador que possui a sua atividade laboral em alguma atividade não relacionada com o mercado financeiro. A pessoa trabalha 8 horas por dia, 2 horas de descanso, 8 horas de sono, 2 horas entre ida e vinda do trabalho (só aqui já deu 20 horas), para chegar em casa e gastar duas horas para estudo de ações? Para mim o custo de oportunidade aqui é gigantesco. Mesmo que a pessoa consiga algum retorno em excesso, para mim não valeria a pena. Entretanto, além desse “pormenor” pouco discutido,  todas as pesquisas acadêmicas apontam que a maioria dos gestores profissionais falham em obter retornos em excesso a do mercado por um período de tempo significativo. Se profissionais não conseguem em sua maioria, por qual motivos nós conseguiríamos? Assim, além de desperdiçar o que você tem mais de precioso que é o seu tempo, talvez isso nem gere resultados positivos.

  “O mercado acionário brasileiro está de lado há anos, investir em ações é só para “tubarões”, o resto é "sardinha" iludida”. Já escrevi um artigo sobre esses termos repetidos ad nauseam na blogosfera Market Depth - Sobre Tubarões e Sardinhas .  O mercado acionário reflete nada mais nada menos do que o desempenho das principais empresas do país. No médio e longo prazo é muito provável que o Brasil estará em condições econômicas melhores do que atualmente. Seja por competência própria, seja por inércia em relação ao desenvolvimento do resto do mundo, o fato é que o PIB per capta do Brasil ainda é muito baixo. A quantidade de capital acumulado em relação ao PIB também é muito baixa se comparado com países desenvolvidos. Assim, tudo leva a crer que em 20-30 anos o Brasil estará melhor do ponto de vista econômico. Se isso ocorrer, o mercado acionário refletirá isso. Se o mercado acionário brasileiro está de lado há anos, ele vem de um período de forte alta, tanto é verdade que no ano de 2010 o Brasil apresentou crescimento da ordem de 20% anualizados nos 10 anos anteriores. É evidente que esse ritmo é muito forte não se sustentaria para sempre. São ciclos de mercado. O mercado acionário americano bate recorde histórico. Entretanto, na década passada o mercado acionário americano apresentou crescimento negativo anualizado. Assim é como funciona os mercados, e é por isso que faz todo sentido em ter exposição internacional se o tamanho do seu portfólio assim permitir. Logo, o mercado acionário americano não subirá para sempre, nem o mercado brasileiro ficará de lado para sempre. Por mais óbvio que isso possa parecer, sempre é esquecido, e o que mais tem são pessoas que se baseiam em resultados de 2-3 anos para vaticinar o que vai acontecer para os próximos 20-30 anos.

Não dá para ter retornos anualizados de 20% aa para sempre né colegas. Assim como os imóveis não podem ter retornos reais de 10%aa durante um período prolongado de tempo.

  Muito teórico? Basta ver o retorno anualizado em dólar do mercado acionário brasileiro desde a década de 60. Desde então, o Brasil se urbanizou, teve ditadura, milagre econômico, década perdida, volta da democracia, crise institucional, diversas crises internacionais, bonança externa, presidente sociólogo, presidente operário, e depois de toda essa salada mista, o retorno em dólar do Brasil foi parecido com o retorno do mercado americano, um dos mercados acionários com maior retorno entre os países desenvolvidos nos últimos cinquenta anos.

Consegui apenas, na breve pesquisa que fiz, achar esse gráfico de 1963 a 2010. Porém, tenho certeza que já vi um gráfico que ia até 2013. Se não me engano, o retorno no período foi algo próximo de 12%aa, o que é bem parecido com o retorno do S&P500 no período.
    

  Destarte, colegas, mantenham simples, tenham filtros básicos fundamentalistas, internalizem a noção de que longo prazo não é 2-3 anos e não percam, se a intenção não é viver do mercado em operações diárias ou semanais, tanto tempo assim analisando tendências, notícias, etc, etc. Eu creio que investidores jovens com um longo caminho de acumulação pela frente e com exposições no mercado acionário se mantiverem a paciência e os aportes colherão bons frutos no futuro.

   Há nesse blog alguns artigos sobre o mercado acionário que talvez possam ajudar quem ainda está  e “brigando” com alguns conceitos  Princípio da incerteza e Precificação de ativosAções - Os Três Fatores de risco de FF e Vamos falar sobre o P-L

EMPREEDEDORISMO

   Empreender não é um ativo financeiro, é uma empreitada humana. Entretanto, pequenos negócios podem ser tratados como ativos financeiros. Afinal, conceitualmente uma empresa gigante e uma pequena são a mesma coisa, diferindo é claro em tamanho, escala, tratamento jurídico, tributário, etc. Entretanto, uma empresa de capital aberto na bolsa em sua essência é parecida com uma empresa pequena de valor de algumas centenas de milhares de reais. 

  Se uma pessoa pudesse escolher entre emprestar dinheiro para uma empresa como a Apple ou para uma empresa recém aberta de capital social de 300 mil reais, qual seria a alternativa mais segura? É claro que emprestar para a Apple. Sendo assim, o mesmo raciocínio pode ser aplicado em relação à propriedade. Qual empresa tem mais chance de falir a Apple ou a empresa de 300k? Sendo assim, ter um negócio próprio é muito mais arriscado do que ser dono de uma empresa grande via mercado acionário.

  Além do mais, quem é proprietário de uma pequena empresa está altamente concentrado em apenas um negócio. Quem investe razoavelmente diversificado em empresas no mercado acionário não possui risco de concentração. Para finalizar, muitos possuem negócio próprio e trabalham ativamente nele. Assim sendo, a renda do trabalho, na forma de um pro labore (seja ele retirado ou não) advém da mesma empresa da qual se é dono. Logo, a concentração de quem é dono de apenas um negócio é total e absoluta.

  Por todos esses motivos, empreender é muito mais arriscado, e se é mais arriscado deve remunerar muito mais. É exatamente o que ocorre no mundo real. Se a pessoa almeja ter um resultado financeiro muito alto, provavelmente o melhor caminho é o empreendedorismo. Por meio dele, a pessoa pode começar com pouco e acabar com dezenas de milhões, ou às vezes centenas, de milhões de reais ou dólares. É fácil? Claro que não, mas é talvez o único meio de ascenção financeira muito grande para pessoas que não tiveram acesso à capital acumulado de outras gerações.

  Eu aprecio quem empreende e o ato de empreender. Creio que grandes ideias surgem de pequenos empreendedores que conseguem ocupar nichos muito específicos e às vezes inexplorados de um determinado mercado. Acredito que um país para prosperar precisa criar um ambiente onde seja fácil um pequeno empreendimento prosperar. A Nova Zelândia é um exemplo disso. Lá em apenas um dia se abre uma empresa. Vamos partir do pressuposto que em um dia se fecha uma empresa. Pergunto as pessoas, se vocês pudessem abrir e fechar uma empresa em dois dias, não seria muito mais fácil apostar naquela ideia que você por ventura teve um dia sobre abrir um negócio? Quando se é complicado abrir um negócio, e mais difícil ainda fechar um negócio em determinados casos (o Brasil é pródigo nisso), parece que a pessoa precisa dar um tiro certeiro, não tem tanta margem para erros, o que com certeza faz com que muitas pessoas optem pela informalidade, o que é ruim para elas e para o país, ou de certa maneira desistam de seus planos. Portanto, uma boa mudança no Brasil seria um apoio total e irrestrito ao empreendedorismo, principalmente de pequenos empreendedores.

  Eu, em certa momento da vida, penso em ser de alguma maneira sócio capitalista de vários pequenos empreendimentos. Assim, diluo o risco, e tenho um potencial de retornos altos. Na verdade, penso até mesmo em empreender colocando a mão na massa como fiz quando produzi raves e montei uma "empresa" de xadrez na adolescência, mas devido à minha situação financeira, o faria apenas em algo que realmente me desse prazer. Importação e exportação é algo que me chama atenção, mas principalmente abrir um Surf Camp com um tratamento diferenciado, humanizado. Porém, não vou me estender aqui sobre eventuais aspirações minhas.

  Portanto, seja como sócio operacional, ou sócio capitalista, a participação em pequenos empreendimentos não deve ser ignorada, e pode sim de certa forma compor o portfólio de um investidor.

DÓLAR E OURO

   Sobre essa espécie de ativo, eu já escrevi um artigo específico algumas considerações sobre dólar e ouro Basicamente, em prazos bem longos o ouro tende a seguir a inflação com uma discretíssimo valorização real. Um colega, certa vez, colocou um gráfico com a cotação do ouro nos últimos 10 anos, se não estou enganado. Primeiramente, 10 anos não é longo prazo, a série histórica do ouro remonta há mais de 100 anos. Além do mais, uma tendência de muito longo prazo pode ser que não se prolongue no futuro, e isso é claro. Se as tendências históricas fossem imutáveis, assim como as correlações entre os ativos, seria bem fácil montar portfólios completamente otimizados. Entretanto, no caso específico do ouro, além da série histórica ser de longa duração, o que é um ponto forte de ser levado em conta, faz sentido que o ouro não tenha grandes valorizações reais no longo prazo.

   O motivo é muito simples. Num mundo onde os BC tem cada vez mais poder, onde o Fiat Money é a regra, parece claro que o ouro tem uma função de hedge natural contra uma eventual catástrofe financeira. Assim, o ouro acaba servindo como um seguro, pois, como diz W.Buffett, você não consegue extrair crescimento do ouro, uma barra de ouro hoje não se transformará em duas barras de ouro daqui um ano. Se assim o é, não faria sentido que o ouro tivesse uma expectativa de retornos reais alta. Imagina uma classe de ativo que te protege da hecatombe e que você ainda assim ganha dinheiro com ele ano a ano. Se um ativo desses existisse, quase todo meu dinheiro seria direcionado para ele. Porém, não faria muito sentido do ponto de vista financeiro.


  O fato do ouro flutuar bruscamente em períodos mais curto de tempo não retira essa característica do ouro. Como qualquer outro ativo financeiro com marcação instantânea a mercado, o ouro, a prata, ou qualquer outro metal, irá variar de preço a depender do humor e das condições de mercado de uma determinada época. Tudo varia de preço, e no curto ou médio prazo, se a pessoa fizer um aporte único e grande pode pegar uma cotação esticada ou depreciada de qualquer ativo. Porém, isso não quer dizer que uma determinada classe de ativo não tenha alguns pressupostos e alguns fundamentos lógicos por trás.

  O dólar teria uma função semelhante ao ouro em relação a um investidor brasileiro. Na verdade, faz mais sentido, assim como o colega do blog investidor internacional o faz, ter uma proteção cambial em uma cesta de moedas fortes e não apenas em dólar. Basicamente, as taxas de câmbio medem a força de uma moeda em relação à outra, o que acaba dizendo sobre a força de uma economia ou não. O mercado de câmbio a toda evidência é muito volátil, mas a fim e a cabo, ele deve medir o poder de compra entre as moedas.

   Como se trata de seguro, se a pessoa não pretende fazer negociações visando ganhos de curto prazo via uma alocação de ativos tática, eu creio que essas espécies de ativos , caso o investidor realmente queira ter uma proteção maior em seus investimentos, devem ter uma participação modesta no portfólio de 10%,, no máximo 15%.

   É isso colegas, espero que tenham gostado e possa esse breve ensaio ter alguma valia nem que seja para investidores iniciando o seus estudos nas mais variadas classes de ativo.

Daqui algumas horas faço 35 anos. Como o tempo passa rápido. Nunca passei meu aniversário tão longe de casa. Os últimos dias tem sido marcados por longas esperas para ir surfar, já que o vento resolveu dar o ar da sua graça. Felizmente, tive a oportunidade de surfar Cloudbreak com 4 pés perfeito dois dias atrás. Espero  que o meu presente de aniversário amanhã possa pegar um vento offshore e 3-4 pés de ondas boas na bancada ainda mais rasa de Restaurants (Foto - Contemplando o sunset na belíssima cidade de Wanaka na Nova Zelândia).

 Abraço a todos!